Autor: Adelmar Tavares de Lyra
Capa: A. Carlos
Quem vê a linda paosagem
Das terras do meu Sertão,
Não esquece nunca mais
Mesmo
que tenha intenção,
Pois a beleza é tão rara
Que lhe deixa sem ação...
E chegando em Belmonte,
Sente uma grande atração,
Pois aqui reside a fonte
De toda admiração.
Não na vida quem conte
Sem sentir grande emoção.
São duas pedras gigantes
Distribuindo beleza:
Uma mais fina e comprida,
Outra menos, com certeza.
Igual irmãs germinadas
Formam linda fortaleza:
De longe você avista,
Com destaque colossal,
A Pedra do Reino linda,
No meio do Catolesal
Para o céu se elevando
Dentro do maniçobal...
Simples como o sertanejo,
Esta paisagem elevada
Faz seu olhar se perder
No despontar da quebrada.
É coisa da natureza
Pra nunca ser explicada.
A lenda que delas contam,
Envolve amor; sacrifício,
Falam de um reino encantado
Manchado pelo suplício
De pecador, do inocente,
Pra conseguir beneficio...
Vendo aquela paisagem
Cheia de graça e pureza,
Pensou, logo, o João Antonio,
Com bastante esperteza,
Usá-la para conseguir
Luxo e muita grandeza.
Por ser cabra astucioso
Era bastante escutado,
Tudo que ele falava
Era logo acreditado,
Sem alguém fizesse riso
Estava o caso criado...
Dizia que teve um sonho
Onde o rei morto chegava
Em como grande miragem
O caminho lhe ensinava
Pra ter fartura e riqueza
Que cofre nenhum guardava.
No dia que viu Maria
Sentiu a paixão primeira.
Não conseguiu esquecer
Aquela moça faceira,
Queria porque queria
Maria para companheira.
Sem ter outra solução,
O amor dela queria.
Usou esta lenda antiga
Que pouca gente sabia:
De um rei já falecido
Que como morto vivia.
Esse rei adimirado
Era Dom Sebastião,
Que morreu numa batalha,
Apesar da proteção,
Pois uma bala certeira
Atingiu seu coração.
Cada dia que passava
Mais gente aparecia,
Que queria a vida eterna,
saúde e muita alegria.
Até mesmo a salvação
João Antonio prometia.
O sonho quase-verdade
Todo mundo ajudava:
Cavalo, gado, dinheiro;
Pra preparar o futuro
Com que o povo sonhava.
Como condição maior
Para tudo alcançar,
Precisava de Maria
Como dona do seu lar,
Pois só com ela faria
O rei se desencantar.
No local já indicado
Tinha até mesmo altar.
Era em cima das pedras,
Onde ele iria sangrar
Os fieis e inocentes
Pra lealdade provar.
De Manacá e Jurema
Tomavam a mistura
Em uma Festa de Orgia,
Onde a Noiva apalpada
Servia de bom pestisco
Para a turma convidada.
Somente no outro dia,
Tendo com o rei dormido,
A noiva estava livre
Pra ficar com o marido,
Que agradecia a licença
E o favor concebido.
Foi o vaqueiro Zé Gomes
Pelo seu tio levado,
Que viu a grande sangria
No altar improvisado.
Se deitava e não dormia,
Só vivia apavorado.
Ele viu toda a corte:
Rei, Rainha e Soldado,
Até Padre e Sacristão,
Ladrão e desempregado.
Todos tinham seu lugar,
Ninguém era desprezado:
Crescendo o fanatismo
Ficou mais forte a seita
O Padre da freguesia
Sendo pessoa direita
Convenceu a João Antonio
Deixar de lado a empreita.
João Antonio se fingiu,
Enganando o bom vigário.
Indicou substituto
E levou o numerário,
Sem deixar interrompido
O seu plano temerário.
Após ficar escondido
Trabalhava seu intento,
Dizendo pra todo mundo
Haver chegado o momento
Do rei desencantar
Pra cumprir o juramento.
Andava de casa em casa
Convencendo a matutada,
Que ouvia a sua fala
Com toda fé redobrada,
Pedindo e querendo ver
Reino da pedra encantada:
Era grande a multidão
Que João Antonio levava,
Prometendo só bonança
Pra quem acreditava,
Ver a Dom Sebastião
O rei que ressuscitava.
Vendo tudo se agravar,
Zé Gomes se decidiu:
Foi a casa do patrão,
Muito segredo pediu:
Lhe contou uma coisa ruim
Como jamais ninguém viu.
Também contou ao patrão
Uma outra novidade:
Que o irmão de João Antonio,
João Ferreira, na verdade,
Estando cheio de cana
Revelou toda a maldade:
Já estava impaciente,
Não agüentava esperar;
O reinado não chegava
Para o povo enricar.
Queria lavar de sangue
As pedras e o seu altar.
O povo já bem descrente,
Sem ver chegar o reinado,
Se atirava das pedras,
Morrendo despedaçado.
Até menino de braço
Era ali sacrificado;
Na grande carnificina
Gente e bicho degolado,
Era um desastre total.
O chão estava encarnado
E as pedras até hoje
Tem um tom avermelhado.
Sabendo dessa notícia,
Um comissário valente
Juntou o seu pessoal
E partiu urgentemente,
Chegou lá no local
Meteu o peito na frente.
Manuel Pereira, seu nome.
Acostumado a enfrentar
Situação mais difícil,
Junto com seus amigos
Só entrava pra ganhar.
Junto ao pé da serra
A batalha começou,
Debaixo dos umbuzeiros
Muita cabeça rolou.
A historia do reinado
Em sangue se desmanchou.
Quanta gente destroçada
No meio do matagal,
Por causa de um maluco
Sem amor, sem ideal,
Que enganou a cidade
E
espalhou tanto mal.
O chão molhado de sangue,
Os urubus na Festança
Faziam grande banquete
Comendo adulto e criança.
Com seus bicos afiados
Abriam todas as panças.
Logo a cidade sabia
Da desgraça acontecida:
João Antonio estava morto
E a gente arrependida
Procurava a Igreja
Onde encontrava guarida.
Assim ficou encerrada
Esta página d edor,
Escrita com sofrimento
Do sangue derramou.
E hoje as duas pedras
Só sabem guardar amor.
Passados esses momentos
Tudo voltou ao normal:
As pedras tão imponentes
Num braço matinal
Mostram todo seu carinho
Pra sai terra natal.
Como marco da historia,
Grande é o seu valor.
Da cidade é o brasão
Olhando com muito amor:
Por certo que estas pedras
São obras do criador.
Depois de ler o cordel
Vá passando a diante,
Pra outro também ler,
Pois a cultura ambulante
É popular na essência,
Por isso tão penetrante.
FIM
Arquivo original disponível no Memorial da Pedra do Reino em São José do Belmonte - PE
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