Colégio:
Adahil Barreto / 8º ANO “A”
Karine Silva De Matos
Fichamento
do livro: A hora da estrela
Iguatu
2017
“Mesmo admitindo ter um público mais
reduzido, ela não conseguiria abrir mão de seu traçado: tem gente que cose para
fora, eu coso para dentro.” (pág. 03).
“A do autor do livro que, embora sem
rosto definido, se dá a conhecer nos comentários que faz.” (pág. 04).
“Está em jogo à linguagem – seu poder de
conhecimento, de comunicação e de convencimento – e, com ela, debatam-se a
existência humana e os laços sociais.” (pág. 05).
“Tudo
no mundo começou com um sim.” (pág. 06).
“A
vivência de culpa, como se houvesse um erro fundamental a ser senado, desponta
desde o primeiro subtítulo do livro – A culpa é minha.” (pág.07).
“O
leitor ora é alguém com quem se solidariza, mesmo que na dor ou no desamparo,
ora é alguém de quem quer distância.” (pág.08).
“Sou um
homem que tem mais dinheiro do que os que passam fome, o que faz de mim de
algum modo um desonesto.” (pág.09).
“O seu
método de trabalho configura-se como um verdadeiro ritual de iniciação estou
esquentando o corpo para começar, esfregando as mãos uma na outra para ter
coragem.” (pág.10).
“Não
notem sequer que são facilmente substituíveis (...). como Baudelaire, ainda
sente-se atraído por esse mundo sórdido e precário.” (pág.11).
“A sua
única conquista amorosa e desajeitado Olimpo, foge-lhe das mãos como água.” (pág.12).
“Eu não
sou intelectual escrevo com o corpo.” (pág.13).
“O sertanejo
é, antes de tudo, um forte. O sertanejo é antes de tudo um paciente.” (pág.14).
“O
silêncio constitui a manifestação estremada da linguagem esvaziada, mas que
emite novas significações.” (pág.15).
“Com o
gesto de dedicar-se, sobretudo, com os destinatários, o antigo Schumann e sua
doce clara que hoje são ossos, ai de nós.” (pág.16).
“Zonas
assustadoramente inesperadas. Esta sintonia concentra todos os tempos: todos
esses projetos do presente e que mim me vaticinaram a mim mesmo.” (pág.17).
“O
desafio é dizer sim como Clarice Lispector, para continuarmos inventando o
mundo.” (pág. 18).
“Dedico-me
á cor rubra e escarlate como o meu sangue de homem em plena idade e, portanto
dedico-me a meu sangue.” (pág. 19).
“Resposta
esta que alguém no mundo má dê. Vós? É uma história tecnicolor para ter algum
luxo, por Deus eu também preciso. Amém para nós todos.” (pág. 20).
“Que
ninguém me engane, só consigo a simplicidade através de muito trabalho.” (pág. 21).
“Quem
não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espirito ou saudade por lhe faltar
coisa mais precioso do que ouro.” (pág. 22).
“Sei
que há moças que vendem o corpo, única posse real, em troca de um bom jantar em
vez de um sanduíche de mortadela.” (pág. 23).
“Sim,
mas não esquecer que pode escrever não – importa – o – quê o meu material
básico é palavra.” (pág. 24).
“A
pessoa de quem vou falar é tão tola que às vezes sorri para os outros na rua.
Ninguém lhe responde ao sorriso porque ao menos a olham.” (pág.25).
“Alegre
com brio. Tentarei tirar ouro do carvão sei que estou adiando a história e que
brinco de bola sem bola.” (pág.26).
“Não
tenho medo de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu
também sou o escuro da noite.” (pág.27).
“Comer
a hóstia será sentir o insosso do mundo e banhar-se no não.” (pág.28).
“Essa
ideia de borboleta branca vem de que, se a moça vier a se casar, casar-se a
magra e bebe, e, como virgem, de branco.” (pág.29).
“Trata-se
de moça que nunca se viu nua porque tinha vergonha. Vergonha por pudor ou por
ser feia? Pergunto-me também como é que eu vou cair de quatro e fatos e fatos.”
(pág.30).
“Para
desenhar a moça tenho que me domar e para poder captar sua alma tenho que me
alimentar frugalmente de frutas.”(pág.31).
“O
jeito e começar de repente assim como eu me lanço de repente na água gélida do
mar, modo de enfrentar com uma coragem suicida o intenso frio.” (pág.32).
“Pareceu-lhe
que o espelho baço e escurecido não refletia imagem algum logo depois passou a
ilusão e enxergou a cara.” (pág.33).
“Carregar
em costa de formiga um grão de açúcar ela era de leve como uma idiota , só que
não o era.” (pág.34).
“Ela
toda era um pouco encardida, pois raramente se lavava.” (pág.35).
“A
mulherice só lhe nasceria tarde porque até no capim vagabundo há desejo do
sol.” (pág.36).
“Pois a
vida é assim: Aperta-se o botão e a vida acende.” (pág.37).
“Uma vez por outra tinha a sorte de ouvir de madrugada um galo cantar a
vida e ela se lembrava de nostálgica do sertão.” (pág.38).
“Estavam
cansados demais pelo trabalho que nem por ser anônimo era menos árduo.” (pág.39).
“Quanto
a ela, até mesmo de vez em quando ao receber o salário comprava uma rosa.” (pág.: 40).
“Para
ela a realidade era demais para ser acreditada, aliás, a palavra “realidade”
não lhe dizia nada. Nem a mim, por Deus.” (pág.41).
“Na
verdade por pior a infância é sempre encantada.” (pág.42).
“Durante
o dia eu faço, como todas, gestos despercebidos por mim mesmo.” (pág.43).
“Mas
nunca se sabe, quem espera, sempre alcança.” (pág.44).
“Talvez
fosse assim para se defender da grande tentação de ser infeliz de uma vez e ter
pena de si.” (pág.45).
“Que se
há de fazer com a verdade de que todo mundo e um pouco triste e um pouco só.” (pág.46).
“Ás
vezes só a mentira salva.” (pág.47).
“O
coração batendo como se ela tivesse englutido do um passarinho esvoaçante e
preso.” (pág.48).
“Eu
prefiro continuar o nunca ser chamado em vez de ter um nome que ninguém tem,
mas parece que deu certo.” (pág.49).
“Sem
nem ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabeá
parecia lágrimas escorrendo.” (pág.50).
“As
boas maneiras são a melhor herança.” (pág. 51).
“Tinha
o tom cantando e o palavreado seboso próprio para quem abre a boca e fala
pedindo e ordenando os direitos dos homens.” (pág.
52).
“Tinha
descobrir agora dentro a semente do mal, gostava de se vingar, este era o seu
grande prazer e o que lhe dava força de vida.” (pág.
53).
“Em
pequena ela vira uma casa pintada de rosa e branco com um quintal onde havia um
poço com cacimba e tudo.” (pág. 54).
“Estava
habituada a se esquecer de si mesmo.” (pág. 55).
“Não
chorava, por causa da vida que levava: porque, não tendo conhecido modos de
viver, aceitava que com ela era assim.” (pág. 56).
“Ele
falava coisas grandes, mas ela prestava atenção nas coisas insignificantes como
ela própria.” (pág.57).
“E você
tem cor de suja. Nem tem rosto nem corpo para ser artista de cinema.” (pág.58).
“O seu
diálogo era sempre oco. Dava-se conta longinquamente de que nunca dissera uma
palavra verdadeira.” (pág. 59).
“Ela
teve inveja da girafa que pairava tão longe no ar. Tendo visto seus comentários
sobre bichos não agradavam Olimpo procurou outro assunto.” (pág.60).
“Será
que o meu oficio doloroso e o de adivinhar na carne a verdade que ninguém quer
enxergar.” (pág.61).
“Nascera
crestado e duro que nem galho seco de árvore ou pedra ao sol.” (pág.62).
“Macabéa
gostava de filme de terror ou musicais, tinha predileção por mulher enforcada
ou que levava um tiro no coração.” (pág.63).
“Posteriormente
de pesquisa em pesquisa, ela soube, que Glória tinha mãe, pai e comida quente
em hora certa.” (pág.64).
“Ria
por não ter se lembrado de chorar.” (pág.65).
“Ela
teve uma ideia já que ninguém lhe dava festa muito menos noivado, daria uma
festa para si mesma.” (pág.66).
“Sim,
mas o misterioso Deus dos outros lhe dava ás vezes um estado de graça.” (pág.67).
“Ninguém
pode entrar no coração de ninguém.” (pág.68).
“No
mundo de Glória, por exemplo, ele ia se locupletar, o frágil machinho. Deixaria
enfim de ser o que sempre fora o que escondia até de si mesmo por vergonha de
tal fraqueza.” (pág.69).
“Macabeá,
enquanto glória saia da sala roubou escondido um biscoito.” (pág.70).
“A
medida era apenas para ganhar dinheiro e nunca por amor a profissão nem a
doentes.” (pág.71).
“Quanto
a mim, só sou verdadeiro quando estou sozinho.” (pág.72).
“Se
ainda escrevo é porque nada mais tenho a fazer no mundo enquanto espero a
morte.” (pág.73).
“Talvez
por que sangue é a coisa secreta de cada um, a tragédia vivificante.” (pág.74).
“Olha,
quando eu era mais moça tinha bastante categoria para levar vida fácil de
mulher.” (pág.75).
“Eu era
pobre, comia mal, não tinha roupas boas então caí na vida.” (pág.76).
“Eu
tinha um homem de quem eu gostava de verdade e que eu sustentava por que ele
era fino e não queria se gastar em trabalho nenhum.” (pág.77).
“até
agora sempre fulgara que o que a tia lhe fizera era educá-la para que ela se
tornasse uma moça fina.” (pág.78).
“Um
dinheiro grande vai lhe entrar pela porta adentro em horas da noite trazida por
um homem estrangeiro.” (pág.79).
“- E
agora – disse a madama- você vá embora para encontrar seu maravilhoso destino.”
(pág.80).
“Ela de
olhos afuscadas como se o último final da tarde fosse mancha de sangue e ouro quase negro.” (pág.81).
“Eu
ainda poderia voltar atrás em retorno aos minutos passados e recomeçar com
alegria no ponto em que macabeá de pé na calçada.” (pág.82).
“O luxo
da rica flama parecia cantar glória.” (pág.83).
“Só
agora entendo e só agora brotou-se-me o sentido secreto: o violino é um aviso.”
(pág.84).
“Os que
me lerem assim, levem um soco no estômago para ver se é bom. A vida é um soco
no estômago.” (pág.85).
“Não,
não era morte, pois Não a quero para a moça: só um atropelamento que não
significava sequer desastre.” (pág.86).
“Basta
descobrir a verdade que ela logo já não é mais: passou o momento.” (pág.87).
“No
fundo ela não passara de uma caixinha de música meio desafinada.” (pág.88).
DIEGO DE SOUSA CANUTO
8ºB
PROF: LUKA SEVERO
FICHAMENTO DO LIVRO: HORA DA ESTRELA
AUTORA: CLARICE LISPECTOR
- Clarice Lispector deixou vários depoimentos sobre a sua produção
literária. Em alguns, parecia se defender do estranhamento que causava em
leitores e críticos (PÁG. 3 )
- Hora da estrela leva esta proposta às últimas conseqüências e por isso
a sua leitura torna-se tão instigante. ( PÁG. 4 )
- A hora da estrela este empreendimento assume uma ousadia e uma profundidade
inusitadas. ( PÁG. 5 )
- Daíprojetar-se, como sentido último da realidade, a realidade que sempre
está faltando. (PÁG. 6)
- Primeiro, como toda busca e toda pergunta são busca de algo e pergunta
para alguém, o narrador, para saber, tem de desdobrar-se, tem de dialogar. ( PÁG.
7 )
- Em meio à tensão entre homem e mundo é que surge o debate em torno da
palavra. ( PÁG. 8 )
- O narrador-escritor coloca desde o início o seu drama ao afirmar: “sou
meu desconhecido”. ( PÁG. 9 )
- A sua atitude diante de Macabéa tem continuidade na atitude diante da linguagem.
( PÁG. 10)
- Na primeira vez, refere-se ao escritor; na segunda, a Macabéa. ( PÁG.
11 )
- Macabéa, em tudo e por tudo, é o oposto do herói épico. ( PÁG. 12 )
- A perspectiva estética vem a propósito de evitar o falseamento da
realidade. (PÁG. 13)
- “história com começo, meio e gran finale seguido desilêncio e de chuva
caindo”(PÁG. 14)
- O silêncio constitui a manifestação extremada da linguagem esvaziada,
mas que emite novas significações. (PÁG. 15 )
- Em seguida o verbo dedicar transforma-se em dedicar-se, provocando uma
mudança de sentido, pois confere à ação uma dimensão temporal ininterrupta,
reavivando o sentido religioso que há em dedicar-se, o empenho de continuidade,
de ligação profunda, para a qual a música desempenha um papel fundamental. (PÁG.
16)
- Eis o porquê da presença da música, forma de comunicação que prescinde
da palavra, porque os sentimentos a sobrepujam. ( PÁG.17)
- “tudo no mundo começou com um sim”, temos diante de nós um enigma a
decifrar e um desafio a empreender. ( PÁG. 18)
- À vibração das cores neutras deBach. A Chopin que me amolece os ossos.
(PÁG.19)
- Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a
escrever. (PÁG.21)
- Entanto até sangue arfante de tão vivo de vida poderá quem sabe escorrer
e logo se coagular em cubos de geléia trêmula. (PÁG.22)
- Estou esquentando o corpo para iniciar, esfregando as mãos uma na
outra para ter coragem. ( PÁG. 23 )
- Sim, mas não esquecer que para escrever não-importa-o-quê o meu
material básico é palavra. (PÁG. 24 )
- A pessoa de quem vou falar é tão tola que às vezes sorri para os outros
na rua. Ninguém lhe responde ao sorriso porque nem ao menos a olham. (PÁG. 25)
- Transgredir, porém, os meus próprios limites me fascinou de repente. E
foi quando pensei em escrever sobre a realidade, já que essa me ultrapassa. (PÁG.26).
- Quero neste instante falar da nordestina. É o seguinte: ela como uma
cadela vadia era teleguiada exclusivamente por si mesma. (PÁG.27).
- Mas sabendo antes paranunca esquecer que a palavra é fruto da palavra.
(PÁG.28)
- Mas voltemos a hoje. Porque, como se sabe, hoje é hoje. Não estão me
entendendo e eu ouço escuro que estão rindo de mim em risos rápidos e ríspidos
de velhos. (PÁG.29)
- Esqueci de dizer que tudo o que estou agora escrevendo é acompanhado
pelo rufar enfático de um tambor batido por um soldado. No instante mesmo em
que eu começar a história – de súbito cessará o tambor. ( PÁG. 30 )
- Quanto à moça, ela vive num limbo
impessoal, sem alcançar o pior nem melhor. Ela somente vive, inspirando e
expirando, inspirando e expirando. (PÁG.31).
- Tudo isso eu disse tão longamente por
medo de ter prometido demais e dar apenas o simples e o pouco. Pois esta
história é quase nada. O jeito é começar de repente assim como eu me lanço de repente
na água gélida do mar, modo de enfrentar com uma coragem suicida o intenso
frio. Vou agora começar pelo meio dizendo que – que ela era incompetente. ( PÁG.
32 )
- Depois de receber o aviso foi ao
banheiro para ficar sozinha porque estava toda atordoada. (PÁG. 33 )
- A moça tinha ombros
curvos como os de uma cerzideira. Aprendera em pequena a cerzir. Ela se
realizaria muito mais se se desse ao delicado labor de restaurar fios, quem
sabe se de seda. Ou de luxo: cetim bem brilhoso, um beijo de almas. (PÁG. 34 )
- Há poucos fatos a narrar e eu mesmo
não sei ainda o que estou denunciando. (PÁG. 35 )
- Esse não-saber pode parecer ruim mas
não é tanto porque ela sabia muita coisa assim como ninguém ensina cachorro a
abanar o rabo e nem a pessoa a sentir fome; nasce-se e fica-se logo sabendo. (PÁG.
36)
- O definível está me cansando um pouco.
Prefiro a verdade que há no prenúncio. Quando eu me livrar dessa história,
voltarei ao domínio mais irresponsável de apenas ter leves prenúncios. Eu não inventei
essa moça. ( PÁG. 37 )
- Dos verões sufocantes da abafada rua
do Acre ela só sentia o suor, um suor que cheirava mal. Esse suor me parece de
má origem. Não sei se estava tuberculosa, acho que não. No escuro da noite um homem
assobiando e passos pesados, o uivo do vira-lata abandonado. ( PÁG. 38 )
- Talvez a nordestina já tivesse chegado
à conclusão de que a vida incomoda bastante, alma que não cabe bem no corpo,
mesmo alma rala como a sua. ( PÁG. 39 )
- Tudo isso acontece no ano este que
passa e só acabarei esta história difícil quando eu ficar exausto da luta, não
sou um desertor. (PÁG. 40)
- Quando dormia quase que sonhava que a
tia lhe batia na cabeça. Ou sonhava estranhamente em sexo, ela que de aparência
era assexuada. (PÁG. 41).
- O pior momento de sua vida era nesse
dia ao fim da tarde: caía em meditação inquieta, o vazio do seco domingo. (PÁG.
42)
- Todas as madrugadas ligava o rádio
emprestado por uma colega de moradia, Maria da Penha, ligava bem baixinho para
não acordar as outras, ligava invariavelmente para a Rádio Relógio. (PÁG. 43)
- Tinha o que se chama de vida interior
e não sabia que tinha. Vivia de si mesma como se comesse as próprias entranhas.
(PÁG. 44).
- Embora só tivesse nela a pequena flama
indispensável: um sopro de vida. (Estou passando por um pequeno inferno com
esta história. Queiram os deuses que eu nunca descreva o lázaro porque senão eu
me cobriria de lepra). ( PÁG. 45 )
- Esqueci de dizer que às vezes a
datilógrafa tinha enjôo para comer. Isso vinha desde pequena quando soubera que
havia comido gato frito. Assustou-se para sempre. ( PÁG. 46 )
- Pois não é que quis descansar as
costas, por um dia? Sabia que se falasse isso ao chefe ele não acreditaria que
lhe doíam as costelas. (PÁG. 47 )
- Nesta manhã de dia 7, o êxtase
inesperado para o seu tamanho pequeno corpo. A luz aberta e rebrilhante das
ruas atravessava a sua opacidade. Maio, mês dos véus de noiva flutuando em branco.
(PÁG. 48)
- E a moça, bastou-lhe vê-lo para
torná-lo imediatamente sua goiabada com Queijo (PÁG. 49)
Sem nem ao menos se darem as mãos
caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas escorrendo. ( PÁG.
50 )
- No Nordeste tinha juntado salários e
salários para arrancar um canino perfeito e trocá-lo por um dente de ouro
faiscante. (PÁG. 51)
- As poucas conversas entre os namorados
versavam sobre farinha, carne-de-sol, carne-seca, rapadura, melado. (PÁG. 52)
- Enfim o que fosse acontecer, aconteceria.
E por enquanto nada acontecia, os dois não sabiam inventar acontecimentos. (PÁG.
53)
- Em pequena ela vira uma casa pintada
de rosa e branco com um quintal onde havia um poço com cacimba e tudo. Era bom
olhar para dentro. (PÁG. 54 )
- Não contou que o roubara no mictório
da fábrica: o colega o tinha deixado na pia quando lavara as mãos. Ninguém
soube, ele era um verdadeiro técnico em roubar: não usava o relógio de pulso no
trabalho. (PÁG. 55)
- “Una Furtiva Lacrima” fora a única
coisa belíssima na sua vida. Enxugando as próprias lágrimas tentou cantar o que
ouvira. Mas a sua voz era crua e tão desafinada como ela mesma era. (PÁG. 56)
- Ele falava coisas grandes, mas ela
prestava atenção nas coisas insignificantes como ela própria. (PÁG.57).
- Afinal terminou por voltar para ela.
Por motivos diferentes entraram num açougue. Para ela o cheiro da carne crua
era um perfume que a levitava toda como ,se tivesse comido. (PÁG.58).
- E uma vez os dois foram ao Jardim
Zoológico, ela pagando a própria entrada. Teve muito espanto ao ver os bichos.
(PÁG. 59)
- Depois da chuva do Jardim Zoológico,
Olímpico não foi mais o mesmo: desembestara. (PÁG. 60).
- Quero cair morta neste instante se
estou mentindo. Quero que meu pai e minha mãe fiquem no inferno, se estou lhe enganando.
(PÁG. 61).
- Mas ainda não expliquei bem Olímpico.
Vinha do sertão da Paraíba e tinha uma resistência que provinha da paixão por
sua terra braba e rachada pela seca. (PÁG. 62).
- Macabéa gostava de filme de terror ou
de musicais, Tinha predileção por mulher enforcada ou que levava um tiro no
coração. ( PÁG. 63)
- Pelos quadris adivinhava-se que seria
boa parideira. Enquanto Macabéa lhe pareceu ter em si mesma o seu próprio fim. (
PÁG. 64)
- É melhor eu não falar em felicidade ou
infelicidade — provoca aquela saudade desmaiada e lilás, aquele perfume de
violeta, as águas geladas da maré mansa em espumas pela areia. Eu não quero ( PÁG.
65 )
- A festa consistiu emcomprar sem
necessidade um batom novo, não cor-de-rosa como oque usava, mas vermelho
vivante. ( PÁG. 66 ).
- Era supersônica de vida. Ninguém
percebia que elaultrapassava com sua existência a barreira do som. Para as
pessoas outras ela não existia. A sua única vantagem sobre os outros era saber
engolir pílulas sem água, assim a seco. (PÁG. 67 )
- Glória era toda contente consigo
mesma: dava-se grande valor. Sabia que o sestro molengole de mulata, uma
pintinha marcada junto da boca, só para dar uma gostosura, e um buço forte que
ela oxigenava. Sua boca era loura. (PÁG. 68)
- Ele, para impressionar Glória e cantar
logo de galo, comprou pimenta-malagueta das brabas na feira dos nordestinos e
para mostrar à nova namorada o durão que era mastigou em plena poupa a fruta do
diabo. (PÁG. 69)
- O médico olhou-a e bem sabia que ela
não fazia regime para emagrecer. Mas era-lhe mais cômodo insistir em dizer que
não fizesse dieta de emagrecimento. (PÁG. 70 ).
- O médico muito gordo e suado tinha
tique nervoso que o fazia de quando em quando ritmadamente repuxar os lábios. O
resultado era parecer que estava fazendo beicinho de bebê quando está prestes a
chorar. (PÁG. 71).
Sim, estou apaixonado por Macabéa a
minha querida Maca, apaixonado pela sua feiúra e anonimato total, pois ela não
é para ninguém. Apaixonado por seus pulmões frágeis, a magricela. ( PÁG. 72 )
- Estou absolutamente cansado de
literatura; só a mudez me faz companhia. Se ainda escrevo é porque nada mais
tenho a fazer no mundo enquanto espero a morte. ( PÁG. 73)
- Não foi difícil achar o endereço da
madama Carlota e essa facilidade lhe pareceu bom sinal. (PÁG. 74)
- Macabéa sentou-se um pouco assustada
porque faltavam-lhe antecedentes de tanto carinho. E bebeu com cuidado pela
própria frágil vida, o café frio e quase sem açúcar. (PÁG. 75)
- Pois faz bem porque eu não minto. Seja
também fã de Jesus porque o Salvador salva mesmo. Olhe, a polícia não deixa pôr
cartas, acha que estou explorando os outros, mas, como eu lhe disse, nem a polícia
consegue desbancar Jesus. (PÁG. 76 )
- Então vou me cuidar para não escapulir
nenhum palavrão, fique sossegada. Ouvi dizer que o Mangue tem um cheiro insuportável.
No meu tempo a gente punha incenso queimando para dar um ar limpo na casa. Até
tinha cheiro de igreja. (PÁG. 77 )
- Macabéa separou um monte com a mão
trêmula: pela primeira vez ia ter um destino. Madama Carlota (explosão) era um
ponto alto na sua existência. ( PÁG. 78 )
- Macabéa nunca tinha tido coragem de
ter esperança. ( PÁG. 79 )
- Pois vai ter só para se enfeitar. Faz
tempo não boto cartas tão boas. E sou sempre sincera: por exemplo, acabei de
ter a franqueza de dizer para aquela moça que saiu daqui que ela ia ser
atropelada, ela até chorou muito, viu os olhos avermelhados dela? ( PÁG. 80 )
- julgava feliz.Saiu da casa da
cartomante aos tropeços e parou no beco escurecido pelo crepúsculo — crepúsculo
que é hora de ninguém. Mas ela de olhos ofuscados como se o último final da
tarde fosse mancha de sangue e ouro quase negro. ( PÁG. 81)
- Prestou de repente um pouco de atenção
para si mesma. O que estava acontecendo era um surdo terremoto? Tinha-se aberto
em fendas a terra de Alagoas. Fixava, só por fixar, o capim. Capim na grande
Cidade do Rio de Janeiro. (PÁG. 82)
- Então começou levemente a garoar.
Olímpico tinha razão: ela só sabia mesmo era chover. Os finos fios de água
gelada aos poucos empapavam-lhe a roupa e isso não era confortável. ( PÁG. 83 )
- Apareceu portanto um homem magro de
paletó puído tocando violino na esquina. Devo explicar que este homem eu o vi
uma vez ao anoitecer quando eu era menino em Recife e o som espichado e agudo sublinhava
com uma linha dourada o mistério da rua escura. ( PÁG. 84 )
- Por enquanto Macabéa não passava de um
vago sentimento nos paralelepípedos sujos. Eu poderia deixá-la na rua e simplesmente
não acabar a história. ( PÁG. 85 ).
- Um gosto suave, arrepiante, gélido e
agudo como no amor. Seria esta a graça a que vós chamais de Deus? Sim? Se iria
morrer, na morte passava de virgem a mulher. ( PÁG. 86 )
- Ela estava enfim livre de si e de nós.
Não vos assusteis, morrer é um instante, passa logo, eu sei porque acabo de
morrer com a moça. Desculpai-me esta morte. ( PÁG. 87 )
- O final foi bastante grandiloqüente
para a vossa necessidade? Morrendo ela virou ar. Ar enérgico? Não sei. Morreu
em um instante. O instante é aquele átimo de tempo em que o pneu do carro
correndo em alta velocidade toca no chão e depois não toca mais e depois toca de
novo. Etc., etc., etc. No fundo ela não passara de uma caixinha de música meio
desafinada. (PÁG.88)
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